A mulher de nariz grande chega bem antes em
qualquer ambiente.
É a que chega primeiro também na vida de um
homem.
Sai, quase sempre, sem bater a porta. Prefere
uma bela vingança.
A mulher de nariz grande fareja, degusta, vê,
ouve e tateia na velocidade da luz. Como se o nariz grande se intrometesse nos
outros sentidos.
Para o bem e para o mal. A mulher de nariz
grande chega bem antes.
Chega primeiro para matar a sua curiosa fome de
viver. Chega primeiro porque odeia ter saudade e não poder matá-la
imediatamente.
Para o bem ou para o mal, a mulher de nariz
grande chega do nada. Inclusive para aplicar um flagrante delito no
canalha.
Ela fareja de longe a desgraça.
Até no altar a mulher de nariz grande deve
chegar primeiro do que o noivo, desmentindo todo o folclore.
A mulher de nariz grande é a que, entre todas
as suas semelhantes, tem menos inveja do pênis.
A porção mulher que até então se resguardara,
amigo, aflora, freudianamente, diante da presença dela.
A mulher de nariz grande me lembra o melhor
conto que já li na vida: “O Nariz”, de Nikolai Gogol, evidentemente.
A mulher de nariz grande puxa oxigênio e aroma
dos jardins para a cama até em uma manhã de segunda.
Na horizontal, o nariz grande vira uma ponte
para a margem esquerda do nirvana.
Em um colchão d´água de motel barato, é ponte
sobre o Danúbio.
Ao contrário de Pinóquio, quando mente, digo,
quando ilude, a mulher do nariz grande cresce as orelhas, Deus castiga.
Graças a tal temor, a mulher de nariz grande é
a que menos utiliza o dom de iludir os tontos como este que vos digita.
A mulher de nariz grande emite as mais lindas e
barulhentas onomatopeias quando goza ou até mesmo quando se aproxima do solene
momento. Ela sente antes o incêndio das horas.
Mesmo em uma distância transatlântica, amigo,
saiba: é a mulher do nariz grande que estará mais perto do que qualquer
outra.
Xico Sá
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