Diz que era um menininho que adorava bala e isto não lhe dava
qualquer condição de originalidade, é ou não é? Tudo que é menininho
gosta de bala. Mas o garoto desta história era tarado por bala. Ele
tinha assim uma espécie de ideia fixa, uma coisa assim… assim, como
direi? Ah… creio que arranjei um bom exemplo comparativo: o garoto tinha
por bala a mesma loucura que o Sr. Lacerda tem pelo poder. [Eu, Yuri, diria “a mesma loucura que o Sr. Lula tem pelo poder”. Entendeu agora?]
Vai daí um dia o pai do menininho estava limpando o revólver e, para
que a arma não lhe fizesse uma falseta, descarregou-a, colocando as
balas em cima da mesa. O menininho veio lá do quintal, viu aquilo ali e
perguntou pro pai o que era:
– É bala – respondeu o pai, distraído.
Imediatamente o menininho pegou diversas, botou na boca e engoliu,
para desespero do pai, que não medira as consequências de uma informação
que seria razoável a um filho comum, mas não a um filho que não podia
ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
Chamou a mãe (do menino), explicou o que ocorrera e a pobre senhora
saiu desvairada para o telefone, para comunicar a desgraça ao médico.
Esse tranquilizou a senhora e disse que iria até lá, em seguida.
Era um velho clínico, desses gordos e bonachões, acostumados aos
pequenos dramas domésticos. Deu um laxante para o menininho e esclareceu
que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava ainda aflita e
insistiu:
– Mas não há perigo de vida, doutor?
– Não – garantiu o médico: – Para o menino não há o menor perigo de vida. Para os outros talvez.
– Para os outros? – estranhou a senhora.
– Bem… – ponderou o doutor: – o que eu quero dizer é que, pelo menos
durante o período de recuperação, talvez fosse prudente não apontar o
menino para ninguém.
______
De Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto).
Fonte: “365 – Seleção de Leitura e Informação”, 1973
Nenhum comentário:
Postar um comentário