Para você que está na Flip: faço bate-papo neste sabado, 16h30, com mediação de
André Barcinski, colega de blog aqui ao lado. A conversa é na Casa da Folha, rua
da Matriz s/n, Paraty. É de graça. O tema é a arte da crônica.
Deixo aí uma receita frugal deste gênero que é o PF, arroz, feijão e bife da
literatura. Com um ovo por cima, evidentemente. Só para aquecer o debate:
Algumas saem fáceis, menina, como aquelas de Rubem Braga, como uma polaroid,
uma pose digital, olha o passarinho, diga xis, um sabiá teimando contra o
barulho da metrópole, fáceis como beijos roubados de mulheres difíceis, na
dança, na pista, uma moleza, como empurrar bêbado em ladeira, como Vinícius no
elogio de uma saboneteira, como descer para um café ou uma cerveja aqui na
esquina da Augusta, como quem costura para fora, mesmo sabendo quanto custa a
mais-valia da musa da encomenda, mesmo sabendo que na vida não tem almoço de
graça, muito menos sobremesa, mesmo sabendo que a vida não é café pequeno, mesmo
sabendo que no fundo da xícara, na borra mais árabe, o desenho do futuro,
Etelvina, é obscuro, o jogo do bicho, Etelvina, ainda não permite o teu
luxo.
Algumas, menina, são crônicas de britadeiras, saem na marra, à força, furando
o asfalto para tirar uma florzinha de nada, a peleja do escriba com o lirismo
que não chega nunca, as chagas abertas, croniquinha raquítica, só o fiapo de
narrativa, sem sustança, sem tutano, coisinha sem graça, metalingüística, a
crônica sobre a crônica falta de assunto.
Algumas vêem ao mundo para confundir a audiência, são crônicas-travestis,
arte dos cronistas transgêneros… Pois é, menina, a gente não sabe se é um conto,
uma rápida elegia expressionista, um poema em prosa, sabe-se lá, menina, mas
mesmo não sendo nada já nasceram crônicas.
Algumas, não têm jeito, eram apenas notícias, que o dedógrafo teimou em
decepar as aspas, minha menina, e enfeitar o naturalismo como pôde, coitado.
Algumas, menina, são para ninar as moças nas sestas, como as de Antônio
Maria, sabia?
Algumas são de costumes, e até ficam como registros históricos, crônicas de
épocas, já ouviu falar em João do Rio?
Algumas já nasceram crônicas de rua, como a grande arte de chutar tampinhas,
como os sem-teto e malacos, como os bambas das sinucas das antigas, aí já
estamos em João Antônio, manja?
Algumas são do amor louco, menina, como aquelas do velho Charles, o safado
catando milho na Remington, menina, com aquela outra menina na praia, gaivotas
quase a bicar-lhe os peitos, como no cinema.
Algumas, minha adorável criatura, minha menina sem nome, são como aquelas,
lembra, quando me conheceste, lembra, quando pela primeira vez lindamente me
deste.
Xico Sá
Nenhum comentário:
Postar um comentário