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Eu queria, senhora, ser o seu armário e guardar os seus tesouros como um corsário. Que coisa louca: ser seu guarda-roupa! Alguma coisa sólida circunspecta e pesada nessa sua vida tão estabanada. Um amigo de lei (de que madeira eu não sei). Um sentinela do seu leito com todo o respeito.Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas.Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro.
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças, seus soutiens sem alças, e tirariam nacos dos seus casacos, e no meu chão,como trufas, as suas pantufas...Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins. Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano. Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.Um isqueiro sem carga. Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.Puxando, sem dores, os meus puxadores.Mexendo com o meu interior à procura de um pregador. Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter... Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.E sufocar com agravantes todos os seus amantes.
Luís Fernando Veríssimo
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