sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Cartas para o Érico Verissimo

Lá na redação do Estadão tem uma caixinha de madeira onde fica a correspondência para os cronistas. Gosto de meter a mão lá dentro e ver como anda o ibope de cada um, antes de pegar as minhas. Na segunda-feira, ajudado pelo atenciosíssimo Mauro Dias (o cronista de amanhã), achamos uma carta para o Érico Veríssimo. Pra quem não sabe, o Érico morreu em 1975 e deixou o quase diário Luis Fernando. Tudo isso é veríssimo.

Me apropriei da carta ouvindo uma música ao longe que me pedia para olhar - por ele - os lírios do campo. A carta, muito bem escrita por uma senhora do interior de Minas Gerais, dizia o seguinte ao ilustre imortal morto:

"Prezado Senhor:
Vamos fazer uma cruzada em favor da agricultura do País. A agricultura já chegou ao fundo do poço e os governantes ainda não perceberam.

Use a sua força, o seu espaço, no sentido de despertar os dirigentes para este gravíssimo problema.

Os pequenos e médios municípios agrícolas de todo o País estão `quebrados'.

O povo está sofrido e triste, sem perspectivas nenhuma.

O leite não vale nada.

O café não vale nada.

O milho não vale nada, etc. Como o pequeno e médio agricultor vão sobreviver?

Ajude-nos a ajudar o Brasil."

Aqui, meu caro Érico, terminava a carta da mineira para o gaúcho. Mas, se me permite a intimidade (afinal já adaptei uns textos seus para a televisão) e aproveitando que você deve estar aí de alerta, vou acrescentar outros pedidos a você.

A missivista (que palavra, hein!) fala na agricultura. Eu poderia falar na saúde. Só uma coisa, para exemplificar: sabe quanto tá a diária do quarto do Hospital Albert Einstein? 1.200 reais. Mais caro que a do hotel mais luxuoso de Paris, o George V. Como você vê, em termos de saúde, já estamos no Primeiro Mundo. Serra, serra, serrador, serra o papo do vovô!

Mas o que eu queria te contar, mestre Érico, é sobre outro ministro do Fernando Henrique. O dos Esportes. O nome dele é Carlos Melles. Você não vai acreditar o que ele fez. Percebeu que o futebol brasileiro estava desorganizado, arrombado, desorientado. Basta te dizer que o campeão brasileiro do ano passado, o São Caetano (sim, o inquérito policial chegou à conclusão que o jogo de São Januário foi paralisado por culpa do Vasco.

Portanto a partida foi dada como perdida e o São Caetano foi campeão. Ou não?), eu dizia, o São Caetano, não vai disputar o campeonato da primeira divisão deste ano. Já o Fluminense, também da segunda, vai. Sei que é difícil entender isso. Nem tente.

Mas voltemos ao ministro, meu caro. Todo mundo sabe que quem afundou o futebol brasileiro nos últimos 40 anos, foram três pessoas: o Havellange, o Ricardo Teixeira e o Fábio Koff. E o que fez o ministro para moralizar o futebol brasileiro de vez? Montou uma equipe para resolver a situação. Sabe quem são os membros dessa equipe, Érico? O Havellange, o Teixeira e o Koff.

Vou repetir para não parecer confuso: o Havellange, o Teixeira e o Koff foram chamados para dar dignidade, respeito e colocar ordem na casa do nosso futebol que eles enrolaram durante quatro décadas. E ainda colocou o senhor Edson Arantes do Nascimento (ex-Pelé) para dar uma certa cor à comissão.

Pode perguntar para o Luis Fernando que ele confirma.

Então era isso que a mineira Regina e o mineiro aqui queriam te dizer. Em estando com Deus por aí - de repente você cruza com ele num churrasco - conte as novidades. E pergunta se ele ainda é brasileiro. Ele vai disfarçar e sair pela tangente, você vai ver.

É que está mesmo uma vergonha a gente sair por aí (e por aqui) dizendo que é brasileiro. Até Deus duvida.

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